Por que sua pregação favorita pode estar matando sua igreja
Como distinguir pregação bíblica de entretenimento espiritual
Semana passada, um jovem veio me procurar animado.
"Professor, precisa assistir essa pregação no YouTube! Foi maravilhosa! O pastor falou exatamente o que eu precisava ouvir. Saí motivado, com vontade de conquistar o mundo!"
Ele me passou o link, radiante de empolgação. Assisti naquela mesma noite.
E fiquei preocupado.
O sermão era todo sensacionalista e motivacional. O pregador pegou um texto bíblico, leu rapidamente, e passou 40 minutos falando sobre autoestima, prosperidade e "decretos de vitória" - coisas que o texto original nem de longe mencionava. A plateia vibrava, gritava, aplaudia. Mas a Palavra de Deus? Essa ficou esquecida no primeiro versículo.
Essa situação me fez refletir sobre algo incômodo: e se a pregação que mais te emociona for exatamente a que menos te transforma?
O vício que ninguém confessa
Existe um vício silencioso nas nossas igrejas. Não é droga, não é álcool. É o vício de sermos "agradados" pela pregação.
Pense comigo: quando você elogia uma pregação, qual é o primeiro critério? "Me tocou", "me motivou", "falou direto ao meu coração". Raramente escuto alguém dizer: "Essa pregação me mostrou quem Deus é" ou "Aprendi algo novo sobre as Escrituras".
Isso revela uma mentalidade perigosa que venho chamando de utilitarismo homilético – a tendência de transformar a Palavra de Deus em ferramenta de autoajuda.
O pregador utilitarista é aquele que monta seu sermão olhando para a plateia, não para o texto bíblico. Ele pensa: "Se eu falar isso, eles vão pular. Se eu criticar aquilo, vão aplaudir. Se eu citar essa passagem desse jeito, vão dizer 'glória a Deus'".
E funciona. As pessoas saem felizes, o pregador é elogiado, recebe mais convites. Todo mundo ganha.
Será mesmo?
Quando "tudo posso" vira mentira doce
Lembro de uma pregação que assisti onde o pastor citou Filipenses 4:13 – "Tudo posso naquele que me fortalece" – e prometeu vitória, prosperidade e ausência de problemas para quem cresse.
A igreja explodiu em glórias e aleluias.
Mas aqui está o problema: Paulo escreveu essa frase para dizer exatamente o contrário. Ele havia acabado de explicar que aprendeu a viver tanto na abundância quanto na escassez, tanto saciado quanto com fome. Ele estava dizendo: "Posso suportar qualquer situação – boa ou ruim – porque Cristo me fortalece".
O pastor pegou um texto sobre resistência em meio ao sofrimento e transformou numa promessa de ausência de sofrimento. As pessoas amaram. Mas foram enganadas com uma mentira doce.
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Os 3 erros que destroem por dentro
Depois de anos observando pregações, identifiquei três erros perigosos que nascem dessa mentalidade utilitarista:
Aplicação direta sem contexto: Pegar um versículo e aplicar direto à vida atual, ignorando quando, por que e para quem foi escrito. Como transformar "não usem adornos" em proibição de brincos, ignorando que o texto original criticava ostentação e vaidade específicas daquela cultura.
Transformar descrição em receita: Ver uma narrativa bíblica e criar uma fórmula. "Paulo usou lenços para curar pessoas, então vamos distribuir panos ungidos". Isso transforma milagres únicos de Deus em técnicas replicáveis, como se fé fosse receita de bolo.
Espiritualizar tudo: Jesus acalmou uma tempestade real, mas o pregador transforma isso numa metáfora sobre "tempestades da vida". O problema? O texto não está falando das suas dificuldades – está revelando quem Jesus é: aquele que até o vento e o mar obedecem.
A pergunta que muda tudo
Aqui está a questão central: para que serve a pregação?
Se for para nos motivar, existem palestrantes melhores que os pastores. Se for para nos dar dicas de vida, existem coaches mais eficientes.
Mas se for para nos mostrar Deus, para nos transformar pela verdade das Escrituras, para nos preparar "para toda boa obra" – como diz Paulo em 2 Timóteo 3:16-17 – então temos um problema sério.
A pregação virou entretenimento espiritual.
O antídoto é desconfortável
O antídoto para esse vício não é confortável. Significa aceitar que:
Nem toda pregação vai te deixar motivado
Às vezes você precisa ouvir sobre pecado, arrependimento, santificação
A Bíblia não é seu livro de autoajuda pessoal
Deus não existe para realizar seus planos, mas você existe para os planos dEle
Uma boa pregação te leva aos pés de Cristo.
Isso não significa que a pregação deva ser fria ou chata. Significa que o objetivo não é seu ego, mas sua alma.
E agora?
Se você é alguém que prega, ensina ou lidera um grupo, pare e se pergunte:
Estou explicando o que o texto diz ou o que quero que ele diga?
Meu objetivo é agradar a audiência ou agradar a Deus?
As pessoas estão aprendendo sobre Deus ou apenas se sentindo bem consigo mesmas?
Se você é alguém que ouve pregações, desenvolva um paladar mais exigente:
Questione sermões que só te agradam
Valorize pregadores que te fazem enxergar Deus com mais clareza
Aceite que crescimento espiritual às vezes dói
A verdade é esta: a pregação que mais te agrada pode ser a que menos te transforma. E a que mais te transforma pode ser a que menos te agrada no momento.
Para reflexão
Termino com uma provocação: da próxima vez que você sair de um culto dizendo "que pregação maravilhosa", pergunte-se: foi maravilhosa porque me agradou ou porque me mostrou a glória de Deus?
A diferença entre essas duas respostas pode determinar se você está crescendo na fé ou apenas sendo alimentado de ego.
🧠 Processando na mente
📕 O que estou lendo:
Matéria que explica que conforme os anos passam nos EUA, as pessoas fazem menos sexo.
🎵 O que estou ouvindo:
🎬 O que estou assistindo:
Aula do amigo Wallace Mello no Instituto de Aperfeiçoamento Cristão.
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Que tenhamos mais um semana abençoada e até a próxima 👋
Victor Romão.
Paz do senhor Jesus Cristo. Maravilhosa reflexão meu irmão. Me fez pensar em muitos sermões.
Esse post nos leva a pensar naquilo que ouvimos no passado, e ou , naquilo que continuamos ouvindo nos cultos na igreja, e também no que falamos no púlpito. Temos muita responsabilidade.