Apocalipse: O livro mais temido da Bíblia se tornou nossa melhor ferramenta de discipulado
Redescobrindo o verdadeiro propósito da revelação de João: formar discípulos maduros, não especialistas em profecias.
Eu cresci na igreja, mas passei toda minha juventude sem contato com o livro de Apocalipse. Aos domingos, ouvia pregações diversas, principalmente no Antigo Testamento. Passagens de Apocalipse eram citadas para reforçar o tema da mensagem, mas raramente havia uma exposição de um trecho do livro como ponto central da pregação.
Sei que sempre existiram pregadores famosos na internet falando sobre Apocalipse. Mas nunca os acompanhei. Sendo sincero, tudo para mim parecia “enganação”. Desculpe a palavra forte aos que se dedicavam a esse tema. Talvez o problema fosse comigo. Mas os estudos de Apocalipse sempre me pareceram sem sentido, confusos e perda de tempo.
Foi muito tempo depois da minha formação teológica que decidi: preciso encarar essa obra com seriedade. Então, fiz uma pós-graduação sobre o último livro da Bíblia e, principalmente, sentei a bunda na cadeira e comecei a ler muito sobre o assunto.
Por que fugimos de Apocalipse?
Durante meu período de estudos, que continuam até hoje, percebi que minha intuição estava certa. Muita coisa falada sobre o livro de Apocalipse era realmente “enganação”. Nossa distância com esse livro não é apenas porque sua linguagem é simbólica e difícil, mas porque há tanta gente fazendo especulações sobre os “sinais” dos tempos que nosso foco é desviado.
Quantos pregadores não usam o sensacionalismo e o medo para desequilibrar a proposta do Apocalipse de João?
Àqueles que deveriam ensinar sobre o último livro da Bíblia focavam em cronogramas proféticos ou mensagens superficiais, impedindo que a beleza do Apocalipse fosse impressa em nossos corações.
Para mim, enganar é quando você recebe uma riqueza para compartilhá-la e, ao invés de repartir o ouro, entrega pedra. É isso que os “doutos” em Apocalipse das últimas décadas têm feito. Ao invés de nos ajudar a mergulhar na revelação de João, nos apresentam outras coisas: especulação, medo, ira e fanatismo.
A descoberta que mudou tudo
Mas e se houver outro caminho? Quanto mais estudava o livro de Apocalipse, mais percebia que a riqueza dessa obra precisa ser desenterrada.
A revelação de João, mais do que uma cartilha profética, é uma mensagem pastoral. O livro é direcionado para igrejas reais, enfrentando perseguições reais. As visões são aberturas da realidade presente, demonstrando que Cristo reina AGORA e reinará para sempre.
Também podemos aprender com a obra como a igreja pode viver fielmente em um contexto hostil. A denúncia de João contra o império — seja Roma ou qualquer outro — é um chamado à perseverança, adoração e testemunho.
Os juízos de Apocalipse não são apenas punitivos, mas chamados ao arrependimento. O Deus de amor e graça permeia toda a obra, convidando seus leitores à perseverança na fé.
Nenhuma dessas informações foi tirada da minha cabeça. É o modo como os primeiros leitores compreendiam o Apocalipse. Gordon Fee, por exemplo, que foi um pastor pentecostal, trata de todas essas questões em seu comentário “Revelation“, que infelizmente ainda não foi traduzido para o português.
Essas descobertas me fizeram admirar o livro de Apocalipse. De ingênuo passei a ser entusiasta da revelação de João. Entretanto, uma pergunta me perseguia: como explicar isso para outras pessoas?
Do conhecimento à prática: o desafio da comunicação
Minha primeira tentativa foi ministrar aulas sobre o assunto. Já temos uma boa comunidade de assinantes aqui da newsletter que participam do meu curso de Apocalipse. Mas, especificamente, eu queria que o livro fosse melhor compreendido por mais pessoas.
Muitos que me acompanham já têm interesse por teologia e estudos. Já gostam de pesquisar e se animam com um curso teológico. Mas, e as pessoas que estão na igreja? E jovens e adolescentes? Não deveriam também se beneficiar da revelação de João?
Pela graça de Deus, surgiu uma rica oportunidade: escrever uma revista da Escola Dominical para a classe de jovens de nossas igrejas na Assembleia de Deus em Santo André.
Diante do convite, a palavra principal de um possível tema que saltou ao meu coração foi: APOCALIPSE.
Mas escrever uma revista não é tão simples. É preciso organizar tempo para conciliar trabalho, família e estudos. Faz-se necessário escolher um tipo de abordagem que comunique com o público. Também é necessário escrever 13 lições que se complementem.
O desafio foi aceito e, debaixo de reflexões e orações, consegui encontrar um caminho de exposição de Apocalipse que acredito ser primordial para se aventurar no livro. Resumi esse caminho no título da revista: Apocalipse: um projeto de discipulado.
Por que discipulado e não profecia?
Por que essa proposta e não outras?
Como venho dizendo, talvez o Apocalipse seja o livro mais temido de toda a Bíblia. Alguns crentes mais velhos até gostam de fazer citações do livro e falar de escatologia, mas os jovens, em geral, não têm tanta afinidade com a obra.
Os motivos já foram apontados: debates intermináveis na internet sobre o fim dos tempos, interpretações conflitantes entre si, linguagem simbólica complexa e etc. Tudo isso criou uma barreira entre muitos crentes e o último livro da Bíblia.
Portanto, a proposta da revista foi justamente romper essa barreira, e a maneira como isso foi feito pode surpreender. A revista trabalha o Apocalipse de forma diferente, evidenciando um tema que tem sido esquecido neste livro maravilhoso: a caminhada com Jesus.
O Apocalipse não trata apenas de escatologia, nem é um mapa para o fim dos tempos. Antes de tudo, é um projeto de discipulado. João escreveu para as sete igrejas da Ásia Menor esperando que elas enxergassem e vivenciassem o que ele viu e ouviu, para que cada cristão se tornasse um discípulo mais fervoroso, temente a Deus e maduro na fé.
Neste trimestre, com os jovens da igreja, vamos superar preconceitos com o livro de Apocalipse, contextualizá-lo no primeiro século, entender a mensagem de Jesus às sete igrejas e deixar que sua mensagem de esperança forme nossa caminhada cristã.
Como recompensa do trabalho, peguei em mãos no último domingo a revista impressa para começarmos a trabalhar até o final do ano:
O que aprendi no processo
Você pode se perguntar por que estou compartilhando essas informações. Os motivos são diversos.
O primeiro é o desejo de compartilhar essa alegria com vocês. É sacrificante trabalhar de forma voluntária para escrever várias páginas de um material. Mas é gratificante saber que essa tarefa pode abençoar a vida de outras pessoas.
O segundo motivo é lembrar que a teologia é feita principalmente para a igreja. Em tempos de redes sociais, vejo muitas pessoas desejando ter sucesso na internet, ter grandes canais do YouTube, criticar e aparecer de todo modo, com a desculpa de que estão fazendo “apologética” ou levando o “nome de Deus”. Mas aprendi com o livro de Apocalipse que João escreve para igrejas locais, com o objetivo de ajudá-las. Aquele que serve com o ensino não deve se esquecer de plantar e abençoar o local onde está, antes de querer ganhar o mundo na internet. Sua igreja e seus irmãos necessitam de sua produção teológica. Abençoe-os.
Em terceiro lugar, eu queria que você pensasse um pouco no livro de Apocalipse como um convite prático à vida cristã, não como um texto esotérico. A obra fala de adoração, testemunho, perseverança e justiça. Ele equipa a igreja para viver hoje fielmente, não apenas especular um futuro distante. O Apocalipse é ferramenta de discipulado.
Um convite para você
Sei que alguns vão me perguntar como é possível adquirir essa revista que escrevi da EBD. Mas já adianto que ela foi impressa apenas para nossas congregações. Foi feita por demanda para esse projeto. Talvez futuramente esteja disponível.
De todo modo, os assinantes da minha newsletter participam comigo do curso de Apocalipse, que está disponível com as gravações de aulas e próximos encontros ao vivo. Também quero informar que escreverei alguns textos exclusivos para os assinantes, aprofundando questões do livro de Apocalipse.
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Para encerrar
O poder do livro de Apocalipse é imensurável. Afinal, também é Palavra de Deus, embora muitos esqueçam que ele existe em suas bíblias. Sua força está em nos colocar no caminho do discipulado: não formar especialistas em cronogramas proféticos, mas testemunhas do Cordeiro que reina.
Meu desejo é que o livro de Apocalipse faça parte de nossa caminhada cristã de forma mais responsável, sem enganação ou superficialidade. O caminho é longo, mas o Espírito é o direcionador de nossas vidas.
🧠 Processando na mente
📕 O que estou lendo:
Meus devocionais matinais estão sendo realizados com o Evangelho de João. Separo um período para ler o trecho do evangelho e o comentário do Wright. Depois, faço minhas reflexões e oração.
🎵 O que estou ouvindo:
🎬 O que estou assistindo:
Comprei semana passada uma mesa digitalizadora. Quero usá-la em minhas aulas. Acho que será bem útil. Usei esse vídeo para aprender a configurá-la.
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Victor Romão.