A parábola do Bom Samaritano pode nos ensinar sobre os conflitos em Israel?
A Lição Radical Que Jesus Usou Para Desafiar o Ódio Entre Povos
Quando assistimos às notícias sobre o conflito entre o Estado de Israel em Gaza, Irã ou Palestina, qual é a nossa primeira reação? Infelizmente, muitos de meus irmãos cristãos evangélicos já têm uma resposta pronta: apoiam automaticamente Israel, sem questionamentos, sem compaixão pelas vítimas de ambos os lados, como se Deus tivesse nos chamado para ser analistas geopolíticos ou militantes israelenses em vez de seguidores de Jesus.
Em meu texto "O Estado de Israel é o povo de Deus?" expliquei que devemos tomar cuidado para não confundir sionismo com o Israel bíblico. Mas hoje, quero fazer uma reflexão diferente, aproveitando uma parábola muito conhecida, que traz um ensinamento de Jesus que deveria ser o padrão de como devemos reagir diante dos conflitos do nosso tempo.
A História Que Jesus Contou Para Quebrar as Diferenças
Você conhece a parábola do Bom Samaritano (Lc 10:30-35), mas provavelmente nunca ouviu falar do contexto complexo em que Jesus a contou. Não foi uma história fofa para crianças da escola dominical. Foi um ataque teológico lançado em meio a tensões raciais e religiosas que dividiam profundamente a sociedade.
A história surge de uma provocação. Um perito da lei judeu, querendo pegar Jesus em contradição, pergunta: "Quem é meu próximo?"
Para entender a força dessa pergunta, você precisa lembrar que o Evangelho de Lucas havia registrado que Jesus comia com pecadores e seus discípulos já tinham passado por Samaria. Essas ações de Jesus incomodavam muitos judeus. Afinal, como ele pode ser o Messias se está mais próximo dos que não são da casa de Israel (os seguidores fiéis da torá)?
Portanto, a pergunta "quem é meu próximo?" é carregada de preconceito, buscando uma resposta que justificasse o amor seletivo - "a quem devo amar e a quem posso ignorar?"
Jesus responde contando sobre um homem que foi assaltado na estrada de Jerusalém a Jericó e deixado quase morto. Passam por ele um sacerdote e um levita - judeus "homens de Deus" da época - mas ambos atravessam para o outro lado da rua.
Então aparece um samaritano.
Para entender o impacto dessa história, você precisa saber que os samaritanos eram os inimigos históricos dos judeus. Não era apenas uma diferença religiosa - era ódio racial, político e teológico acumulado por séculos. Para um judeu, não existia povo mais desprezível na face da terra.
E é exatamente esse "inimigo" que para, cuida das feridas, leva o homem ferido para uma hospedaria e ainda paga as despesas.
O Desafio Que Ninguém Quer Enfrentar
Quando Jesus termina a história, ele não pergunta "quem foi o próximo do samaritano?" Ele pergunta: "Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?"
A resposta é óbvia e dolorosa: o samaritano.
Jesus está forçando seus ouvintes a admitir que o "inimigo" pode ser mais próximo de Deus do que os "homens de Deus" oficiais. Que a misericórdia não conhece fronteiras étnicas, religiosas ou políticas.
Nossa Resposta Aos Conflitos de Hoje
Agora, volte comigo para os conflitos do nosso tempo. Quando vemos as imagens de crianças feridas em Gaza, de famílias israelenses aterrorizadas, de hospitais bombardeados, qual deve ser nossa primeira reação como cristãos?
Não deveria ser: "Mas quem começou?" ou "Israel tem o direito de se defender" ou "Os palestinos são terroristas."
Nossa primeira reação deveria ser a mesma do samaritano: compaixão. Dor pelas vítimas. Desejo de que o sofrimento termine. Um coração que se parte diante de qualquer injustiça, venha de onde vier.
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O Erro Evangélico Que Está Custando Vidas
Muitos cristãos evangélicos, influenciados por uma teologia equivocada, acreditam que devem apoiar Israel incondicionalmente porque "Deus abençoa quem abençoa Israel." Usando esse versículo fora de contexto, eles fecham os olhos para qualquer crítica ao Estado de Israel, mesmo quando há evidências claras de ataques desproporcionais contra civis.
Isso não é fidelidade bíblica. É idolatria política.
Recentemente, por exemplo, a única igreja católica em Gaza foi atingida por mísseis e dois cristãos morreram, outros ficaram feridos. Eles não abrigavam terroristas, não estavam apoiando o Hamas e também não estavam declarando guerra a Israel; estavam apenas evangelizando e buscando ajudar os que sofrem na região. Mas também foram atingidos.
Vídeo do padre responsável da paróquia que foi levemente ferido:
O Que Significa Ser "Próximo" Hoje
A parábola do Bom Samaritano nos ensina que nosso "próximo" não é quem apenas torce para o mesmo time político ou compartilha nossa nacionalidade. Nosso próximo é qualquer pessoa que sofre, independentemente de sua origem.
Quando um míssil mata uma criança palestina, ela é nossa próxima. Quando um ataque terrorista mata uma família israelense, ela é nossa próxima.
Nossa lealdade não deve ser a bandeiras ou governos, mas ao Reino de Deus, onde a misericórdia e a justiça andam juntas.
Duas Convicções Cristãs Sobre Conflitos
Baseando-me na parábola do Bom Samaritano, acredito que todo cristão deveria ter duas convicções claras sobre conflitos como o do Oriente Médio:
1. Toda vida é sagrada - Não importa a nacionalidade, religião ou posição política. Uma criança morta é uma tragédia, sempre.
2. A compaixão vem antes da análise - Antes de explicar "por que" algo aconteceu, devemos sentir dor pelo que aconteceu.
Uma Pergunta Pessoal
Permita-me fazer a mesma pergunta que Jesus fez sobre o Bom Samaritano: quem está sendo próximo das vítimas dos conflitos atuais?
Aqueles que justificam toda violência em nome de uma causa "sagrada," ou aqueles que se compadecem do sofrimento independentemente de quem o causa?
Aqueles que transformam a geopolítica em teologia, ou aqueles que aplicam a misericórdia de Cristo a todas as situações?
A parábola do Bom Samaritano não nos dá uma cartilha política sobre como resolver conflitos internacionais. Mas ela nos dá algo mais importante: um coração que se compadece, mãos que se estendem para ajudar, e uma esperança que trabalha pela paz.
Porque no Reino de Deus, não há judeu nem grego, não há israelense nem palestino. Há cristãos que se compadecem de pessoas feridas que precisam de cuidado.
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Que tenhamos mais um semana abençoada e até a próxima 👋
Victor Romão.
Bela análise sobre a necessidade de ajudar os impactados pelas guerras, já que guerras, por vezes, são necessárias para manter a própria existência.
Que aquelas pessoas aprendam a resolver seus conflitos com dignidade e que nós consigamos ajudar, de alguma maneira, aos impactados.